O Encontro Território Nordeste Goiano que reuniu gestores do Sebrae de 13 estados para conhecer os resultados e desafios do Programa Território Empreendedor, visita técnica que teve início em São João d´Aliança, passou por Alto Paraíso de Goiás, Vila de São Jorge e Teresina de Goiás e terminou em Cavalcante. Localizado no Nordeste Goiano, o município possui cerca de 10 mil habitantes, 900 pequenos negócios e abriga a mais populosa comunidade quilombola do Brasil no Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga.
Celso Antônio Calcagnotto, da assessoria do presidente do Sebrae Nacional, Décio Lima, foi um dos participantes do encontro. Para ele, ações como essa servem primeiro para aproximar todos os setores envolvidos dentro da instituição em um projeto que é desenvolvido em diversos estados do Brasil, em várias regiões, cada uma com características próprias.
“A troca de experiência neste momento é essencial, e o Sebrae tem um papel fundamental, principalmente no desenvolvimento econômico dos pequenos. Às vezes, o poder público se preocupa muito com suas cidades e em alguns segmentos. A identificação das potencialidades de uma região pelos profissionais da instituição promove a aproximação desses setores com o Sebrae e, com a elaboração do diagnóstico, isso tem mudado a realidade de muitas regiões do Brasil, normalmente as mais esquecidas. Esse fato se dá não porque seja diretriz do Sebrae, mas provavelmente porque nessas regiões, nesses territórios, é onde o desafio é maior. E nossa equipe e nossos técnicos gostam de desafios”, ressaltou.
Sobre a importância da abordagem do desenvolvimento territorial na atuação do Sistema Sebrae, Celso explicou que a instituição trabalha em várias vertentes, e o Programa Território Empreendedor possui uma abordagem que objetiva o desenvolvimento econômico, social e cultural, com geração de emprego e renda em regiões vulneráveis. “O que a gente viu aqui eu só conhecia na teoria. Fiz questão de vir e ouvir os depoimentos dos atores que fazem parte do Território Empreendedor Nordeste Goiano. A forma como esse programa impactou a vida dessas pessoas não tem preço”, analisou.
Para ele, a realidade de algumas regiões, como essa que presenciou, é difícil. Mas disse que retorna a Brasília com a convicção de que o Sebrae Goiás atua e já está mudando a realidade da vida de muitas pessoas. “E isso é uma coisa muito gratificante para o Sistema e, por isso, faz dele uma das marcas mais conhecidas no Brasil. No próximo encontro, serei um defensor não só da presença do presidente Décio Lima, mas da diretoria dos estados onde acontecem os encontros, porque acredito que ver relatórios e ouvir é muito diferente de presenciar e ver de perto o brilho nos olhos de todos os envolvidos. Saio daqui impactado pela beleza do projeto, pela dedicação dos técnicos do Sebrae, do carinho com que as pessoas recebem o Sebrae”, afirmou.
Casa do Artesão
A programação em Cavalcante começou na Casa do Artesão com as boas-vindas do prefeito Vilmar Souza Costa, o primeiro prefeito Kalunga da cidade, o secretário de Turismo e Cultura, João Ribas, participantes do Projeto LIDER (Liderança para o Desenvolvimento Regional) das duas microrregiões da Chapada dos Veadeiros e Vão do Paranã, a equipe do Sebrae Goiás e artesãos da cidade, como Beatriz Lino, Marta Kalunga, Silvani Alves do Nascimento e Yan Navi, entre outros. Beatriz contou um pouco da história do local e falou da importância da promoção do artesanato local. “Criamos uma associação para administrar esta Casa que gera renda para cerca de 40 artesãos da cidade, a maioria mulheres. Em seis meses deste ano, conseguimos dobrar o faturamento do ano passado”, comemora Beatriz.
O evento também contou com a apresentação dos resultados do trabalho da integrante do LIDER Priscila Mayer, que mobilizou e conseguiu que os 21 municípios do Nordeste Goiano aderissem ao edital da Lei Paulo Gustavo, de apoio à cultura. “Todos os municípios estão habilitados com o recurso em conta, o que soma cerca de R$ 2 milhões que poderão ser aplicados em projetos de cultura. Talvez essa tenha sido a coisa mais importante que eu fiz na minha vida”, disse Priscila, que é carioca, atriz, cantora, produtora cultural e que se mudou para Cavalcante há dois anos.
Comunidade Kalunga Engenho II
Cavalcante possui o maior território de descendentes quilombolas do Brasil, formado por escravos fugidos ou libertos das minas de ouro da região que viveram mais de 200 anos isolados. Eles vivem nas comunidades como Vão de Almas, Povoado Engenho I, Engenho II e Vão do Moleque. O município possui cerca de 60% da área total do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e foi criado por volta de 1.722 pelos bandeirantes que se instalaram na região à procura de ouro. E a Comunidade Kalunga Engenho II foi o local escolhido para finalizar a programação do Encontro Território Nordeste Goiano, com a apresentação da Rota Kalunga, que tem sido trabalhada pelo Sebrae Goiás.
O grupo foi recebido pelo presidente da Associação Comunitária do Engenho II, Adriano Francisco Maia, e pelas lideranças Sirilo Santos Rosa, a filha Nathália Moreira dos Santos Rosa e Maria Helena Serafim Rodrigues (Tuia Kalunga), da comunidade Kalunga do Tinguizal, de Monte Alegre de Goiás. Sirilo disse que o turismo chegou na hora exata na comunidade porque os moradores viviam apenas da pequena agricultura e pecuária familiar de subsistência e não possuíam fonte de renda. “Com a chegada do turismo, todo mundo abraçou com duas mãos e boa fé a oportunidade”, relatou. E os resultados, segundo ele, são bons porque os visitantes ficam contentes e a comunidade fica feliz porque fica uma renda. “Temos muito a agradecer a Deus, ao turismo e também quero agradecer, de coração mesmo, ao nosso companheiro de luta há muito tempo João Lino, agente de Roteiros Turísticos, e a todo o pessoal do Sebrae Goiás”, disse.
–
O Sítio Histórico Patrimônio Cultural Kalunga é um território de 3.119,860 km² composto por 39 comunidades, distribuído em três municípios: Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás. E a comunidade do Engenho II é a primeira a trabalhar com o turismo, que tem trazido muitos benefícios. Atualmente, a comunidade possui um centro de visitantes com uma loja com produtos feitos no local. As mulheres foram beneficiadas também. De acordo com Nathalia Moreira dos Santos Rosa, a maioria dos condutores turísticos são mulheres, o que trouxe empoderamento e estabilidade. “Hoje, estamos trabalhando também na produção de um livro sobre nossos conhecimentos com plantas medicinais, que em breve estará à venda também na loja”, afirmou.
Turismo em evolução
O presidente da associação, Adriano Paulino da Silva, 23 anos, relatou para o grupo que o turismo teve uma grande evolução depois da pandemia, e hoje eles estão organizados e estruturados para receber os visitantes. “Em junho de 2021, abrimos o turismo aqui na comunidade e tivemos 7 mil visitantes. Em 2022, conseguimos chegar a quase 21 mil visitantes”, explicou.
E o crescimento do interesse pelo turismo de base comunitária só cresce na região. Nos primeiros seis meses de 2023. a comunidade já recebeu 25 mil turistas de todas as partes do país, sendo a maioria vindos de São Paulo e Brasília, e já atingiram a meta do ano passado. “Todos participam direta ou indiretamente como condutores, no transporte, nos quatro restaurantes, no centro de visitação e ainda com a produção dos produtos utilizados nos restaurantes e na loja”, relatou.
Adriano analisou a renda anual da comunidade com o turismo que chega a cerca de R$ 5 milhões em um cálculo circulante, em que inclui toda a cadeia produtiva. “Com um efeito multiplicador, a partir do momento em que o turista desce em Brasília e vem gastando com combustível, alimentação, aluguel de carro, hospedagem – em 2022, a cadeia inteira deve ter gerado R$ 55 milhões gastos no Nordeste Goiano. Nos últimos três anos, nossos estudos mostram que esse número subiu para R$ 150 milhões e ainda podemos melhorar mais”, analisou.
Mas, para isso, o presidente da associação enfatizou que é preciso investimento em infraestrutura das estradas, melhorar a acessibilidade e adquirir benefícios para a comunidade, como um hospital. “Na comunidade, apoiamos com nossos recursos cirurgias e remédios, cultura, educação, lazer, como campeonatos de futebol e festas e folias, que unem as comunidades vizinhas. Todo recurso que entra é aplicado em benefício do Engenho II.”
Para Adriano, o turismo de base comunitária no Engenho II está em desenvolvimento e pode melhorar muito, mas já é referência nacional, já que consegue movimentar uma cadeia gigante até o produto final, que são as cachoeiras. “Temos muitas ações de melhorias a realizar, e os desafios são grandes, mas com apoio do Sebrae e de programas como o Território Empreendedor, podemos nos desenvolver ainda mais e sermos parceiros das outras comunidades Kalunga para que possam também implantar o turismo como fonte de renda.”
Depois das apresentações, o grupo fez uma trilha de 1,8 quilômetro, conheceu a Cachoeira Santa Barbarazinha e experimentou as águas cristalinas da Cachoeira Santa Bárbara.
–
–
Saiba mais sobre o Projeto LIDER clicando aqui>
Saiba como o Sebrae contribui para o desenvolvimento dos territórios clicando aqui>